Escrevo nessa manhã chuvosa, ouvindo música, pensando nas coisas boas da vida entre elas, o gosto pelo que se denomina “arte de pensar”.

Também pelas boas lembranças, recordações sempre acompanhadas por um sentimento de gratidão de estar forte e saudável até o presente momento.

Não sou necessariamente um memorialista, pois o presente muito me atrai e, mais ainda, um salutar interesse pelo futuro, pois como diz    Miguel de Unamuno: “somos mais pais de nosso futuro do que filhos do nosso passado”. Gosto dessa frase: “quem sabe faz a hora não espera acontecer”. De fato, não somos apenas expectadores passivos no deslumbrante espetáculo da história, sentados, “com a boca escancarada, esperando a morte chegar”, como diria Raul Seixas.

  Temos um papel importante a desempenhar no desenrolar dos fatos, de um modo especial, como educador, professor, intelectual, peças importantes na complexa engrenagem da formação de opinião. Observo que estamos há menos de um mês do Natal 2021, e, uma semana depois, do próximo ano. Estamos sempre mergulhados em travessia do tempo, desde o milagre do “aqui agora” até a virada do milênio que a minha geração assistiu, esperançosa de tempos melhores.

  Nasci em 1955, quase metade do século passado, tendo o privilégio de viver e presenciar mudanças radicais no modo de vida das massas, do rebanho, na multidão de seres humanos. Um homem simples nascido numa cidade pequena, na periferia da periferia do que se denomina mundo civilizado, marcado então por dois polos poderosos que marcavam a Guerra Fria, conforme escrevi em artigo anterior.

  Tive o privilégio de morar, estudar e trabalhar na cidade do Rio de janeiro, por alguns anos, aprendendo e absorvendo muitas coisas boas da Cidade Maravilhosa, até então a capital cultural do Brasil, espaço dos museus, teatros, bibliotecas, e também do Maracanã. Também espaço da ciência e do conhecimento, pois fui estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, o sonho de Getúlio Vargas de uma “cidade da ciência e da tecnologia”.

 À medida que ia mergulhando no ambiente cientifico e tecnológico, aumentava a minha curiosidade pelo futuro, pelo “forecasting”, pela antecipação tecnológica, pois sabíamos que a curva do desenvolvimento era quase continua e que o processo não pararia jamais; estaríamos viajando rumo a novos ambientes, mais complexos, tal como vemos nos inúmeros filmes de ficção cientifica, ou mais ainda, numa sociedade do controle.

Altas tecnologias compondo o futuro, novos cenários e mergulharíamos de cabeça nos “paraísos artificiais”, nas utopias urbanas, na ruptura com o sistema dominante e vigente, tal como se protestava já em Woodstock (1969).

 A juventude rebelde diante dos fracassos da guerra do Vietnam, falta de perspectivas e tantas outras frustrações da sociedade moderna atual, entupida de objetos de consumo, muito pobre em afetividade.

Nesse sentido, futurismo e memorialismo se interpenetram e, mergulhar no passado nos projeta de volta ao futuro, pois, aparentemente não há saída para a humanidade e como se dizia antigamente, “the dream is over”, o sonho acabou.

 Ideias de uma manhã de chuva.

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br

NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

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