Usina de Capivari de Baixo trocou de mãos em agosto e faz planos para continuar sendo a ponta de uma cadeia produtiva que movimenta R$ 6 bilhões ao ano e emprega mais de 20 mil pessoas em Santa Catarina

Foi um fim de ano movimentado nas instalações do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (CTJL), em Capivari de Baixo, no Sul catarinense. A usina, com 857 megawatts de potência instalada, é uma das principais geradoras de energia de Santa Catarina e foi vendida no fim de agosto pelo grupo francês Engie, que a controlava desde a privatização, em 1998, para a Diamante Holding Participações.

O valor do negócio: R$ 325 milhões, segundo foi comunicado ao mercado, dos quais R$ 210 milhões no fechamento da operação e o restante sujeito ao cumprimento de determinadas condições previstas no acordo de compra e venda entre as companhias.

A troca de mãos já seria suficiente para demandar uma grande adaptação – mas os novos donos têm planos ambiciosos, o que aumenta os desafios. “Nossos acionistas pretendem criar em torno da Jorge Lacerda uma importante companhia geradora de energia”, diz o engenheiro eletricista Jefferson Silva de Oliveira, diretor de operações da usina.

Uma das mudanças em curso é a composição de uma equipe gerencial reforçada. “Como éramos uma unidade descentralizada da Engie, não precisávamos ter profissionais para cuidar de diversos aspectos da gestão que agora estão sob nossa responsabilidade”, afirma Oliveira.

Em vez de fechamento, renovação para continuar movimentando a economia

Trata-se de um cenário bem mais promissor do que há apenas alguns meses, quando pairava sobre o Sul de Santa Catarina a ameaça de que a movimentação em torno da termelétrica fosse de natureza mais sombria. O ano de 2021 começou com a ameaça de descomissionamento da usina, um jargão do setor elétrico que, concretamente, quer dizer desligamento.

Se não houvesse um comprador, duas das sete unidades geradoras que compõem a Jorge Lacerda provavelmente já teriam saído de operação, com as restantes seguindo pelo mesmo caminho até 2025.

Mal dá para imaginar o tamanho do prejuízo para a economia do estado. O Complexo Termelétrico Jorge Lacerda é a ponta de uma cadeia produtiva que movimenta R$ 5,6 bilhões na economia catarinense e gera pouco mais de 20 mil empregos diretos e indiretos.

Nessas contas incluem-se toda a indústria de extração de carvão mineral, o setor de logística (principalmente a Ferrovia Tereza Cristina, que  leva o combustível das minas para a usina) e indústrias produtoras de cimento, que usam as cinzas resultantes da queima do carvão na termelétrica como insumo.

Termelétrica responde por 15% do parque gerador catarinense

Haveria também uma perda considerável para a segurança do sistema elétrico brasileiro, sob vários aspectos. Até recentemente, um período prolongado de chuva abaixo da média baixou o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas do país. O alto volume de chuva dos últimos três ou quatro meses amenizou o problema, mas não o solucionou completamente – e a situação pode mais uma vez piorar com o fim do período chuvoso, no outono.

“Num momento de escassez de energia, seria uma grande perda ter uma usina desse porte sendo desligada”, diz Otmar Müller, presidente da Câmara de Energia da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc).

Para se ter uma ideia, o CTJL responde, sozinho, por cerca de 15% da capacidade de geração instalada em Santa Catarina. A geração em Capivari de Baixo gira em torno de 3,7 mil gigawatts/hora por ano, o suficiente para abastecer pouco mais de um terço do que a indústria catarinense consome anualmente.

Como o sistema elétrico nacional é interligado, não dá para dizer que toda essa energia gerada ali é utilizada no estado – mas é bom que ela esteja por perto. “A proximidade do centro de geração ajuda a reduzir perdas na transmissão e na distribuição de eletricidade e é bom para a segurança do sistema”, afirma Müller.  

Planos de expansão podem incluir unidades geradoras a carvão mais tecnológicas e sustentáveis

Um dos aspectos mais promissores das mudanças em torno da termelétrica são as expectativas para o futuro. Segundo Oliveira, diretor de operações, a nova empresa está empenhada em promover uma transição energética justa para o sul de Santa Catarina.

Isso significa, entre outras coisas, adaptar a cadeia produtiva do carvão mineral, contribuindo para que o Brasil cumpra os acordos internacionais firmados pelo governo brasileiro no que diz respeito à redução das emissões de gases causadores de efeito estufa. Essa é a premissa na ampliação da capacidade de geração da empresa.

“Podemos, no futuro, gerar energia usando o gás natural como combustível”, diz Oliveira. “Mas temos o carvão no nosso DNA, e o desenvolvimento de formas de neutralizar as emissões de gases, como a tecnologia de captura, armazenamento e utilização do carbono, pode nos levar a investir mais na geração a carvão”.

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