Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo nesta bela manhã, na tranquilidade de minha casa, ouvindo Schubert (1797-1828), lá na frente os cachorros estão latindo e, também, nos fundos, passarinhos cantando.
Os leitores percebem que quase sempre começo os meus artigos desse modo, um pouco repetitivo, monótono, porém eu sempre me apego à descrição do momento, do espaço, algo que os gregos chamavam de “dêixis”, que pode ser traduzido pelo aqui-agora, algo tão etéreo e fugidio que sempre nos escapa das mãos.
Talvez, ao me referir ao tempo, deveria falar da diferença entre “cronos” e “kairos”, dois modos que os gregos se referiam ao tempo e que, nós, do senso comum, nos apegamos mais ao cronometro, à medição objetiva do tempo, tal como nas antigas transmissões de jogos de futebol, o locutor exclamava: “meu cronometro marca”, assim por diante.
Também os ditos populares nos revelam inúmeras expressões de tempo, tal como o “tempo vale ouro”, “Deus ajuda quem sempre madruga”, “nunca chegues atrasado à uma reunião”, “bateu o sino, porta fechada”, etc. Por outro lado, se diz com frequência “a pressa é a inimiga da perfeição”.
Algumas pessoas levam em consideração o “kairos”, a manifestação do tempo, o acontecimento, o que nos surge diante de cada momento, o fenômeno, ou como Heidegger (1889-1976) define o homem, o dasein, o “ser-aí”.
Como católico praticante, acredito nos mistérios, e hoje, coincidentemente, na leitura da Palavra, nos vem a expressão “vigiai e orai”, pois é incerta a vinda do Senhor, por isso o servo deve estar sempre atento, “ligado”, pois, a barra vai ser pesada se o patrão o encontrar dormindo na sua chegada.
Pensando nessas coisas, procuro compreender o caráter da incerteza, do imprevisto, pois como se fala no dito popular, a “única coisa certa é a morte”, que nos pega dormindo, acordado, em festa, em oração, rindo ou chorando.
Nos cemitérios eram comuns, nos pórticos de entrada a seguinte frase: “lembra-te homem que és pó e ao pó voltarás”.
Gosto de pedalar pela cidade, com o meu neto que ainda não completou um ano. O chão plano facilita muito, e os pneus balão dão maior estabilidade e conforto, ainda que existem os que preferem os pneus finos e leves, para correrem mais com as suas bicicletas, principalmente de marcha e freio de mão.
Gosto da lentidão da zica, deslizar pelas calçadas e ruas de minha cidade, tal como aqueles antigos remadores de bateira “papa lavagem”, curtindo cada remada, olhando os peixes que pulam e também as garças, os biguás e todas as aves do mar.
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NOVA COLUNA NO REGATA NEWS
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Mesmo diante dos navios gigantes que frequentam diariamente nosso porto, esses remadores tranquilos, dão pouca atenção e com as suas tarrafas jogam na água, um ato quase sempre incerto, pode não pegar nada como também podem pegar peixes bons.
Gosto de escrever; muitos dizem que faz bem para a cabeça, espantam a tristeza, são antídotos contra a depressão e funcionam como drenagem, pois os antigos diziam que “as palavras são drenos”.
Linda manhã prometendo um belo dia, incerto.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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