Balança começa a virar em algumas empresas com aumento da diversidade nas equipes
GPS, filmes 3D, identificador de chamadas, GIFs e a possibilidade de transmissão de áudios por serviços de internet. Todas essas tecnologias, massivamente presentes no dia a dia da sociedade, foram inventadas por mulheres. Porém, apesar do protagonismo histórico, o público feminino ainda não se encaixa na primeira opção de empresas do setor, que possuem o quadro de funcionários majoritariamente preenchido por homens.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE de 2019, só 20% dos profissionais que atuam no mercado de TI são mulheres. Além disso, a pesquisa também revela que as mulheres têm grau de instrução mais elevado do que os homens do setor no Brasil. Muito além de números, a diferença é sentida por quem atua na área. Para Luana Piva, analista de desenvolvimento do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI), questionamentos sobre sua capacidade já foram realidade na carreira. “Eu trabalhei em São Paulo, na capital, e, em alguns casos, fui vista como uma alienígena na equipe. Respondi perguntas como: foi você mesmo que desenvolveu esse código?”, lembra.
Para Luana, a mudança de cidade e empresa foram a virada para notar a falta de profissionais mulheres no mercado. “Quando iniciei no ICI, aqui em Curitiba, percebi a presença de mulheres no dia a dia da empresa e da minha equipe. Nos outros lugares em que trabalhei eram pouquíssimas mulheres, e eu demorei para notar essa falta”, conta.
Clarice Kovalski, analista de sistemas do ICI, também viveu episódios de preconceito no setor. “A minha experiência começou bem antes, eu comecei a trabalhar em 1996 e, nessa situação, era só eu de mulher. Era uma questão de época também, pois naquele tempo o setor estava começando. Mas, quando eu fazia o trabalho de campo, era um susto para todos os homens. Foi quando vim para o ICI que as coisas foram equilibradas, com uma equipe de seis mulheres e sete homens”, conta.
Demanda alta
E esse novo cenário de diversidade também deve ser impulsionado pelo mercado aquecido de TI. De acordo com levantamento da Brasscom, a expectativa é que o setor precise de 70 mil profissionais qualificados a cada ano, em média. A demanda por vagas na área segue alta mesmo na pandemia – e, muitas vezes, alavancada por ela e pelas adaptações impostas a todas as empresas. Enquanto o número de postos de trabalho caiu em grande parte dos setores, segundo o mesmo levantamento, as posições em TI cresceram 1,18% nesse período, em comparação a 2019.
Para encontrar esses candidatos, as estratégias são muitas. No ICI, um portal de carreiras foi criado para tornar a procura mais fácil. Para manter o processo de seleção e recrutamento mesmo nos períodos mais severos de isolamento social, a área de Recursos Humanos precisou compreender e reestruturar seu formato de trabalho. Todas as entrevistas e testes migraram para o ambiente virtual. “Os recrutadores precisaram se adaptar ao modelo, garantindo que, apesar da distância física, o candidato sinta-se confortável e tenha uma boa experiência com a organização, desde o processo seletivo”, comenta Carla Vieira, supervisora de Recursos Humanos do ICI.