O sorriso do ingazeiro
Caminho de Cabeçudas
Caminhar faz muito bem para o corpo; e se o lugar escolhido for cinematográfico e paradisíaco como o caminho de Cabeçudas (uma praia) em Itajaí, Santa Catarina, com certeza lhe trará benefícios também para a alma.
Nessa manhã mesmo, no primeiro horário, o Sol já dava sinal de sua presença marcante… O caminho de Cabeçudas certamente era o lugar mais indicado para respirar um pouco de ar puro. Eu estava ali, mais por curiosidade, para observar os encantos do caminho por onde tantas vezes já havia passado. Borboletas coloridas sem nenhuma cerimônia cruzavam a minha frente, pássaros faziam verdadeira sinfonia, com destaque para um sabiá ao longe e uma quantidade maior de bem-te-vis que exibiam a sua plumagem enquanto tornavam a mata mais sinfônica. Fiquei muito feliz em apreciar um bando de alegres aracuãs e um beija-flor que me seguia a pouca distância.
Continuei inebriado pelo cheiro da mata atlântica, de onde percebia o quebra-mar a festa das gaivotas e o odor da maresia. Muitas pessoas caminhavam, outras faziam Cooper.

Mas, quem mais chamou a minha atenção nessa manhã foi um casal que caminhava a passos comedidos, como me pareceu comedida suas vidas… Ela observava tudo, parecendo não querer perder nada que passava ao redor; ele, por sua vez, mais contemplativo, via as coisas com um olhar distante, como se estivesse envolvido em sonhos… mas foi ele que, a olhar para a mata, ficou pasmo ao descobrir um pé de ingá que estava ali na beira do caminho, carregadinho de frutos. Os dois pararam em frente à árvore como se por um instante aquele ingazeiro magicamente conseguisse reviver a história de suas vidas cravada em seu tronco, em suas folhas e, mais ainda, em seus frutos.
Foi maravilhoso perceber a felicidade do casal. Era como se os dois a princípio dessem às mãos para o ingazeiro e brincassem de roda com todos os seus amiguinhos de infância e depois se abraçassem ao ingazeiro como se ele fosse o seu melhor amigo. Mas o mais fascinante foi observar os olhos da jovem senhora: eles tinham um brilho excepcional e um sorriso maravilhoso. E sem sequer questionarmos se era para nós, o ingazeiro e eu sorrimos para ela. Fiquei na ponta dos pés, peguei um ingá maduro e, sentado embaixo do ingazeiro, delicadamente abri e constatei um lindo sorriso naquele fruto, pois, a sua semente coberta por uma popa alvíssima (diga-se de passagem, muito saborosa) mais parecia uma carreira de dentes, vamos dizer de “dentes de leite”.

O casal partiu saboreando um fruto e suas lembranças de infância. Eu continuei um pouco mais sob a sombra do ingazeiro. Não sei se ainda sorrirei o mesmo sorriso dessa manhã, mas eu tenho a convicção de que se você passar pelo caminho de Cabeçudas e olhar para aquele ingazeiro será presenteado com o seu belo sorriso com gosto de frutas da infância.
Obs.: Agora é tempo de ingá e o caminho de Cabeçudas está repleto deles. É só observar e naturalmente sorrir quando encontrá-los.
J.C. Ramos Filho
Poeta Maranhense – Radicado em Itajaí-SC.
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