Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo nessa noite fria e chuvosa de agosto, ouvindo música clássica e pensando coisas boas, lembrando que estamos ainda no meio do inverno. O frio catarinense, do litoral, da minha cidade, inconfundível, principalmente associado ao vento forte, árvores caindo e o pensamento nos trabalhadores do mar.

Quando fui morar no Rio de Janeiro, o inverno tinha outras dimensões, pouco frio, muita chuva e uma saudade das manhãs catarinenses, o Sul não muito distante, apenas 15 horas de ônibus da Viação Penha.

A música de Schubert (1797-1828) desperta uma força interior, lembranças saudáveis e um exercício vago na arte da memória, pequenos detalhes, o inverno nas manhãs, o caminho da escola e a calma da cidade pequena.

Muita leitura sempre, os contos juvenis, os livros da biblioteca do Salesiano, biografias de grandes vultos de nossa história, tantos livros e um marcante título “O longo Inverno”, de capa dura e colorida, o cotidiano de uma família para sobreviver durante um longo e rigoroso inverno.

 

As mãos encarangadas exigiam uma constante fricção, um exercício de aquecimento para poder manipular uma caneta, copiar as coisas do quadro negro. Sempre gostei de escrever, descrever pequenos fatos, simples lembranças, quase sempre com o rádio ligado, o conforto de uma mesa, cadeira, folha em branco e os olhos percorrendo as paredes e também lá fora, tudo quase escuro pois a cidade era ainda pequena e podíamos ver os vagalumes e o som dos insetos, rãs e pássaros noturnos.

A leitura cotidiana dos textos escolares, as matérias, os exercícios a alegria de ver o conhecimento aumentando, livros, mapas, tabelas, tudo se constituindo em uma unidade perceptível, principalmente quando iniciei o Curso Científico, isso em 1970.

O frio de 1970 foi intenso, pelo menos na minha memória e, um grande fato naquela ocasião foi conhecer Curitiba no inverno, mais fria ainda e, andando à noite com o meu irmão mais velho eu me descobri um existencialista, observando a rua XV quase deserta e a sensação que logo eu também sairia da minha pequena cidade e viria para a cidade grande, “conhecer o asfalto”.

Quando falo existencialista quero me referir ao gosto pela filosofia, a inclinação ao pessimismo filosófico, a percepção de que necessitava de pouco para sobreviver e que a verdadeira riqueza estava na cultura no pensamento e no domínio da matemática.

Sabia, naturalmente, que tudo, no meu caso, dependeria dos resultados escolares, o único campo real e concreto de luta era passar no vestibular de uma universidade famosa de cidade grande, federal, gratuita, onde eu sobreviveria dando aulas de matemática e possivelmente, pequenos bicos.

Não posso negar que era uma visão pragmática, ter boas notas, estar apto a vencer os exames vestibulares dos principais centros brasileiros, pois muita gente dizia que eu tinha “uma cabeça boa” para os estudos.

Já gostava de ouvir as musicas no rádio, principalmente as “paradas do sucesso’, que ocupavam as tardes de domingo e, quando se anunciava o primeiro lugar, já anoitecia.

Gosto de escrever, lembrar das coisas simples!

 

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br

NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

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