Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Semana do Natal, sempre um tempo especial, repleto de lembranças vivas e outras quase apagadas, da casa cheia, das visitas, dos encontros memoráveis, a renovação da energia necessária para se tocar a vida.
Mesmo nesse ano especial, atípico, assustador, devemos encontrar um espaço de silêncio interior, para agradecermos pela sobrevivência, por estarmos vivos e motivados para seguirmos adiante, espalhando boas ideias, pois sabemos que a Humanidade sempre encontra grandes obstáculos e os supera.
Desde a infância, o canto das cigarras, o som inconfundível dos vendedores ambulantes de picolé, a praia, a mesa farta do Natal e o balanço do ano.
Não podemos esquecer dos presentes, simples, porém significativos, as famílias humildes e decentes, ganhando o pão nosso de cada dia com dignidade, suor no rosto e a sempre ação de graças pelo dom da vida.
A cidade mudou muito, inevitável a expansão urbana, a presença quase absoluta das mídia eletrônicas, novos hábitos e costumes foi gerando um ser humano mais imediatista, pouca metafísica, pouca espiritualidade, gente pós moderna.
Muitos perderam a noção do tempo, da tradição, das raízes genealógicas, o avô, o bisavô, o tio, as origens e os velhos “causos” de família, as tragédias, tal como a lembrança do raio fatal que caiu na Fazendinha, matou um tio e traumatizou minha mãe, derrubou uma árvore, início da década de quarenta, Itajaí.
A infância pobre e criativa do meu pai, no antigo Beco do Inferninho, os relatos conhecidos e sempre renovados, pois sabemos que o passado não é fixo, são imagens que se renovam sempre, as narrativas são como cebolas com camadas intermináveis; essa é a hermenêutica inesgotável, que dá gosto à vida.
Escavar sempre o passado, no presente, os personagens, a rica lembrança dos meus pais, em um cenário deslumbrante, década de trinta, meu pai em Itajaí, minha mãe, em Nova Trento; a fala italiana rudimentar, a polenta, roça, a oração, um catolicismo mais ingênuo e, no entanto, mais poderoso.
Tempo de Natal, memória recente, de poucos anos atrás, meus pais ainda vivos, os irmãos vindo de cidades diferentes, as interações saudáveis, normais em quase todas as famílias, a oração, a religiosidade implícita em cada gesto, a lembrança do nascimento do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Santa Missa necessária, na Igreja Nova, na Capela do Salesiano, com roupas novas, sapatos novos e apertados, uma sensação de segurança e de otimismo diante da vida que se despontava à nossa frente. Fim de ano, balanço do que foi feito e a renovação dos planos: “acabar” o Salesiano, servir o Exército, fazer Vestibular, morar em uma cidade grande e seguir à risca o quarto mandamento: “honrar pai e mãe”.
Não me lembro exatamente, em que Natal surgiu a ideia do Rio de Janeiro, mas, acho que foi um pouco antes de ter acabado o Barroso, e também a ferrovia que ligava Itajaí a Trombudo Central.
A mesa farta, o almoço de Natal, a pança cheia, comida boa, consciência limpa, a alegria de viver na minha cidade natal!
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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