Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo nesse início de noite, na tranquilidade de casa, ouvindo Supertramp/ The Logical Song, como se estivesse mergulhando de cabeça na intensidade da década de 1970, o despertar da minha juventude.

Todos nós temos uma certa dose de nostalgia, um encanto pelo passado; eu estufo o peito e digo: que década intensa!

Na verdade, nunca fui um apaixonado pelo rock, embora soubesse da qualidade dos ingleses, suas bandas, seus nomes famosos promovendo agitação mundial nos corações e mentes da juventude do mundo todo.

Meus gostos eram outros, meus interesses estéticos passavam pelo cinema político, pelas canções de protesto e, de um modo equivocado, havia um grande preconceito contra a língua inglesa, a expressão do imperialismo.

Porém, “the logical song” me empurrava para um assunto de interesse permanente, a linguagem, a lógica simbólica, temas que me atraiam, nomes sempre atuais como Bertrand Russel, Wittegestein, Stuart Mills e tantos outros grandes filósofos que colocavam a linguagem no centro de suas reflexões.

Naturalmente, enquanto estudante de Engenharia, com uma base matemática necessariamente forte, tinha consciência da importância da exatidão, da proposição correta, da nítida opção entre o verdadeiro e o falso.

Admirava os ingleses, os pais da Revolução Industrial, um tema que sempre me atraiu, pois, ali, praticamente surgiu o mundo moderno, as tecnologias, o uso da máquina a vapor, o aço e toda a paisagem moderna contemporânea. Curiosamente esses cantos maravilhosos dos roqueiros ingleses refletiam também a decadência do sistema industrial britânico, a falta de perspectivas da juventude, diante de um mundo em permanente crise.

O esgotamento do modelo capitalista pós-guerra, o desemprego significativo nos países avançados, gerando um panorama de incerteza.

No contexto internacional, o fracasso da Guerra do Vietnam, gerou a contracultura, o movimento hippie, as drogas, a pílula anticoncepcional, a chegada do homem na Lua, os transplantes de coração, Woodsctock, os movimentos estudantis em Paris e outras capitais, gerou um clima de onde “era proibido proibir”.

Na minha cabeça jovem, um aluno salesiano, vindo de uma cidade do interior, tudo foi muito forte e impactante, e, desde que conheci a Cidade Maravilhosa, havia muito espanto, admiração e precisava, como todo o jovem, incutir uma “logical song” em minha cabeça, estabelecer uma certa ordem dentro do caos.

O curso de Engenharia era muito puxado, um conteúdo matemático forte e constante, porém, havia espaço para uma certa fuga que era a inspiração para o pensamento filosófico pessoal, amador, singelo, porém impregnado do canto de rebeldia, uma compreensão tácita do que seria uma revolução brasileira.

Comenda ” Homem Brilhante” da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina/ 16/7/22/ uma honra/

Convém lembrar que o componente anti-imperialista colocava em segundo plano a fala inglesa, e, por conseguinte, o gosto pelo rock, pois sempre me lembravam que havia um canto latino americano, forte e vivo embora abafado pela censura dominante, pois se sabia que “escreveu não leu o pau comeu”.

Ouvindo Supertramp, quase meio século depois, sinto-me ao fazer esses comentários, tentar compartilhar essas reflexões que, tenho certeza, a minha geração viveu. Escrever é bom e, aprendi que as “palavras são drenos”, uma terapia simples e eficaz.

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br

NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

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